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e v o l u ç ã o    h i s t ó r i c a    d a    t a p a d a   d a   a j u d a    


 

             

 

 . Quinta Real de Alcântara .

 

Remonta ao tempo de D. João IV, o Restaurador, a fundação a Tapada da Ajuda ou à época filipina? Ainda hoje não se tem a certeza.

 

Porém, a segunda vertente tem mais credibilidade porque sabe-se que “D. Filipe II nomeara D. Teodósio de Frias como arquitecto real do Paço de Alcântara em 1603 ( Vista do Palácio Real de Alcântara, no século XVII.) (fonte: Castelo-Branco, 1996, pp. 120) e em 1610, nomeava-o mestre de obras do Paço da Ribeira, por falecimento do seu pai, Nicolau de Frias (…). O Palácio de Alcântara no início do século XVII não deveria passar de uma modesta casa de campo na qual Filipe II mandou fazer algumas obras.”(Cardoso, 1992).

O Palácio Real de Alcântara encontrava-se situado no lado direito da rua que sai do Arco para Sto. Amaro (em 1765 denominava-se Rua de S. Joaquim, correspondendo à actual Rua 1º de Maio), seguindo-se à então Rua Direita do Ferrador (actual Rua Direita de Alcântara).

 

Frente ao Paço, situado a sul do já então Largo do Calvário encontravam-se as enormes cocheiras reais; em 1903 aí existia o Clube de Lisboa (ou o Clube do Calvário) e só em 1911 foi instalada a Sociedade Promotora de Educação Popular, (Freire, 1929, pp.151), com fachada também para a velha Rua de Santo António, edifício que ainda hoje lá se encontra.

Para Oeste do Palácio Real, segue-se o Mosteiro da Nª. Sr.ª da Quietação (conhecido por Mosteiro das Flamengas de 1582, que se situa na esquina da Rua 1º de Maio com a Rua Leão de Oliveira). Em frente deste situa-se o Convento do Calvário, edificado em cerca de 1600, e em cuja antiga igreja está hoje instalada uma esquadra de polícia.

 

Para Este existia a Quinta Real, limitada por um muro alto que se estendia até à esquina da Rua da Creche de Vítor Manuel – Asilo, a actual Rua José Dias Coelho. (Figura ).

Figura  Rua José Dias Coelho actualmente. Era a antiga Rua da Creche vista do Largo do Calvário (terrenos da Quinta da Ninfa) (Freire, 1929, pp.155).

Os terrenos da propriedade da Quinta Real do Calvário eram constituídos pelo Calvarinho, a Quinta do Teixeira, a Quinta do Cemitério, a Quinta da Ninfa, a fazenda dos Quartos de El-Rei e aos demais terrenos da Tapada.

A quinta seria, naturalmente, ornada com repuxos ou cascatas e ainda com estátuas. E segundo um desenho da época (Baldi, 1669), é revelada uma mancha de arvoredo por detrás das casas e do palácio, que já então deveria ser bastante espesso, proporcionando sombras amenas e convidativas.

 É natural, portanto a predilecção que os reis votaram  a esta sua quinta e «bosque» anexo (Tapada de Alcântara ou Ajuda), particularmente D. João IV e o seu filho mais velho, D. Afonso VI, que em 1662 mudou de residência, do Paço da Ribeira para Alcântara. O mesmo veio a acontecer, com “D. Pedro II que, após o seu casamento com D. Maria Francisca, aí se istalou durante algum tempo e aí veio a falecer …” (Castelo-Branco, 1996).

 

Quanto aos limites da Quinta Real, seriam aproximadamente os do local que hoje está circunscrito a Norte pela Rua dos Lusíadas, a poente pela Rua Leão de Oliveira e a nascente pela Rua José Dias Coelho, como se pode observar na planta do sítio do Calvário, de 1844. (Figura).

 

 

     

Palácio do Calvário

1. Parte concedida à Marquesa de Valença
2. Cavalariças
3. Parte concedida ao Barão de Campanhã
4. Palheiro
5. Parte concedida ao Vedor da Casa Real
8. Casa de venda de produtos da Quinta Real 
9. Casa do Hortelão

Quinta Real

13. Pomar da Horta

24. Vinha de Baixo

14. Pomar do Cemitério

25. Vinha de Cima

15. Grande Lago

26. Mosteiro das Flamengas

16. Horta ajardinada

27. Cerca do Mosteiro das Flamengas

17. Pomar do Teixeira

28. Hospício do Mosteiro das Flamengas

18. Horta dos Arcos

29. Horta do Mosteiro das Flamengas

19. Pomar do Calvarinho

30. Colégio do Calvário

20. Quinta da Ninfa

31. Cerca do Calvário

21. Pomar de Reserva

32. Capela da Caridade

22. Pomar do Jardim

33. Igreja Paroquial de S. Pedro de Alcântara

23. Jardim do Palácio

“A Quinta d’el Rei tinha uma entrada para o lado da Real Tapada da Ajuda  e encontrava-se dividida em duas partes por um arruamento murado de ambos os lados de direcção N/S”, com a ligação às hoje denominadas, Calçada da Tapada e Rua de Alcântara”. (Matos,1994). Este arruamento denominava-se Rua do Carro (correspondendo à actual Rua José Dias Coelho).

Toda a quinta se encontrava dividida em vários sectores, com funções diferentes, desde “zonas mais nobres para deleite de suas majestades até talhões de diversas culturas, como vinha, milho, feijão e várias hortícolas, com a particularidade de, no tempo de João Baptista Ravelasca, possuir canaviais de açúcar.” (Castelo-Branco, 1996).

Dentro dos limites da Quinta Real, a Norte, salienta-se a Quinta da Ninfa rodeada por um muro alto, que “… era apenas uma quinta de recreio, lindamente ajardinada, com largas ruas arborizadas e paradisíacos cantos de verdura. (…) Mesmo defronte ao actual portão da Tapada existia um enorme lago que tinha ao centro uma pequena ilha (…) e, um pouco mais ao nascente havia um caprichoso tanque, com a sua estátua de pedra.” (Freire, 1929).

 

Com o terramoto de 1755 , a família real que residia na altura nos Paços da Ribeira «fugiu» para os altos da Ajuda, abrigando-se na Quinta da Ninfa, “numa construção de madeira , que serviu de «palácio provisório», até se perder num fogo em 1796, obrigando a família real a mudar novamente de morada (desta vez para o Palácio de Queluz, recentemente concluído).” (Marques, 1995).

 

Em substituição da “Real Barraca” foi edificado o Palácio Nacional da Ajuda. O projecto de Francisco Xavier Fabri de 1795 teve início apenas em 1802, sofrendo várias alterações, sendo as mais profundas introduzidas por M. Caetano de Sousa. Hoje em dia, embora inacabado, é a maior residência real de Lisboa, fazendo parte do vasto património arquitectónico e arqueológico classificado como Monumento Nacional e Zona Especial de Protecção.

Em relação ao Paço de Alcântara, a frente do palácio caiu e foi reedificada com «mesquinhez». “Nos fins do século XVIII foi cedido a Francisco José Dias, que aí monta uma fábrica de chitas, e em 1808 quando termina a concessão, regressa à posse da Coroa que o deu para habitação gratuita das viúvas e criadas velhas da Casa Real”. (Matos,1994).

 

Entretanto, em Abril de 1780, uma parte da Quinta Real é doada por D. Maria I para a edificação da igreja de S. Pedro de Alcântara, na qual se utilizaram cantarias e pedras do Convento do Calvário, da parte que o terramoto destruíra.

 

Nos fins do século XVIII acentua-se o movimento de expansão da cidade na direcção de Alcântara e Belém.

Em meados do século XIX (1876), a Casa Real decidiu vender o velho e arruinado palácio, bem como todos os terrenos correspondentes à Quinta Real de Alcântara, para abertura de novos arruamentos e construção de novos edifícios, dando origem ao Bairro do Calvário, praticamente igual ao que hoje encontramos.

Enquanto no século XVII, a linha de costa da margem direita do Tejo, desde o Cais de Sodré até ao Restelo, “era formada por pequenas praias, um imenso sapal, estaleiros e a foz das ribeiras, das quais a de Alcântara era a menor.”  (Freire, 1929). 

No século XIX, a vontade de rectificação da linha de costa aumentou a necessidade de pôr em prática os projectos do “Grande Aterro”, e em 24 de Julho de 1858 principiou-se a sua construção, iniciando-se a grande modificação da fisionomia de Alcântara. Mas devido a várias reclamações, uma vez que os estaleiros deixariam de comunicar directamente com o rio, só em virtude de um projecto lei em 1884, assinado por Hintze Ribeiro e António Augusto de Aguiar, é que, em Outubro de 1887, a Câmara inaugura a obra.Uma grande parte da terra utilizada no Aterro era proveniente da Quinta Real de Alcântara, aquando a sua fragmentação para a construção do novo Bairro.

Se por um lado, a zona ribeirinha ficou «ligeiramente descongestionada» com a construção do aterro de Santos permitindo a abertura da Avenida 24 de Julho, que veio ligar o centro da cidade a Algés; por outro lado, Alcântara perdeu, no entanto, “a beleza e actividade própria de foz de uma ribeira com qualidades de enseada.” (Matos, 1994).


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Tapada da Ajuda . Instituto Superior de Agronomia .

     

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